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A Carcaça Ideal Para Sua Correia Transportadora: 4 Coisas Que Você Precisa Saber

Data da Postagem: 09/03/2020 – 15:30:00 hs

Tempo de Leitura: 4,5 minutos 

Autor: Marcelo Leone

Seguindo nossas dicas sobre o que precisamos saber para especificar corretamente uma correia transportadora, falaremos hoje sobre “CARCAÇA”.

A carcaça, que é formada por um conjunto de duas ou mais lonas unidas por camadas de ligação, será responsável por:

  • Resistir às tensões geradas pelos demais componentes do sistema;
  • Resistir ao impacto do material ;
  • Garantir o acamamento da correia;

Sendo assim, identificamos quatro critérios principais para a sua seleção, considerando as lonas sintéticas convencionais.

1) Escolher entre o Nylon e o Poliester

A principal diferença entre o Nylon e o Poliéster é o alongamento, que se reflete na capacidade de absorver impactos. Portanto, em situações de impacto severo do material sobre a correia, recomenda-se o uso de carcaça composta por urdume de nylon. Mas, o que seria esse tal de urdume?

Denominamos como “Urdume” os fios que compõem as lonas no sentido longitudinal da correia. Já os fios que compõem as lonas no sentido transversal (invariavelmente compostos por fios de nylon), chamamos de “Trama”.

As lonas possuem fios no sentido longitudinal da correia (urdume) e no sentido transversal (trama)

No entanto, em transportadores de grandes extensões, o uso do poliéster é o mais recomendável. Isso porque, ao alongar menos, as correias com urdume de poliéster necessitam de menor curso de esticamento. Para balancear a equação entre esses dois tipos de materiais, na grande maioria dos casos, utilizamos carcaças com urdume de Poliéster e a trama de Nylon.

Com isso, temos uma carcaça que oferece excelente resistência mecânica, alto desempenho, baixo alongamento e perfeito acamamento, uma vez que os fios de Nylon são muito flexíveis.

Entretanto, existem aplicações que realmente exigem a aplicação de Nylon-Nylon. Como exemplo, podemos citar as plantas de papel e celulose que possuem correias para transportar toras de madeira. Nesse caso, tanto a trama quanto o urdume são de Nylon.

2) Determinar a Tensão Máxima de Operação e a Tensão Admissível

Baseado no tipo de material, nas condições de operação, na potência do motor e outras especificações de projeto; será determinada a máxima tensão que a correia será submetida. Essa tensão será usada para determinar o tipo e a quantidade de lonas, já que a correia deverá resistir a esta tensão.

O valor obtido para a Tensão Máxima deverá ser dividido pela largura da correia e comparado com a Tensão Admissível que, por sua vez, é a tensão nominal que a correia pode suportar. Em outras palavras, a tensão máxima nunca poderá ser maior que a tensão admissível.

Além disso, para mitigar qualquer risco, é sempre recomendado considerar o máximo de 70% DA TENSÃO ADMISSÍVEL (tad) para fins de cálculo e dimensionamento.

Por exemplo, se temos uma aplicação que resulta em uma tensão máxima de 30 kgf/cm, isso significa que precisamos de uma carcaça que possua 70% da sua tensão admissível maior do que 30 kgf/cm. Além disso, com base na escolha da carcaça, é possível determinar:

  • A largura mínima da correia (em polegadas);
  • A largura máxima da correia (em polegadas);
  • O diâmetro mínimo dos tambores;

IMPORTANTE: a resultante da tensão admissível deve ser medida em Kgf/cm, com base na Norma DIN 22102

A tabela acima traz os valores de especificação das carcaças com base na tensão admissível. Portanto, seguindo o exemplo acima, se temos uma tensão máxima de 30 kgf/cm não podemos utilizar uma carcaça “EP 250/2”, uma vez que sua tensão admissível é de somente 28 kgf/cm.

À partir desse ponto, você pode nos perguntar:

1) O que significa EP250/2, EP400/2, EP630/3?

2) Ok, no exemplo eu não posso usar uma EP250/2, mas então qual das outras especificações eu vou escolher?

Para a primeira pergunta, é bem simples e vamos pegar a carcaça EP 250/2 para exemplificar:

  • EP 250 / 2 – Especificação da Carcaça
  • EP – Significa que temos uma carcaça de Poliéster-Nylon
  • 250 (número após o EP) – valor determinado seguindo a norma DIN 22102, que especifica a tensão admissível total da carcaça, em Newtons por milímetro (N/mm). Importante: esta tensão considera o valor da tensão para 1 mm de largura da correia e o somatório das lonas.
  • 2 (número após a barra) – esse número determina a quantidade de lonas.

Já para a segunda pergunta, lhe respondemos: depende. Isso significa que, via de regra, os demais critérios para seleção da carcaça vão influenciar na decisão pela escolha de uma carcaça EP 400/2 ou EP 630/3, por exemplo.

Propositalmente, citamos acima uma carcaça de 2 lonas e outra de 3 lonas, onde cada uma delas traz um valor de tensão admissível diferente. Em resumo, quanto mais lonas a correia tem, maior é a sua tensão admissível. Mas, o que pode nos fazer escolher entre uma correia de 2 lonas ou 3 lonas? Podemos resolver essa pergunta através do próximo critério de escolha da carcaça.

3) Verificar o Acamamento da Correia

Podemos definir como acamamento, a capacidade da correia se apoiar sobre todos os rolos – estando carregada de material ou não – e sem alojar-se no espaço existente entre eles.

A verificação das condições de acamamento da correia é feita com base em informações contidas no catálogo do fabricante e leva em consideração:

  • Peso específico do material;
  • Ângulo de inclinação dos roletes;
  • Quantidade de lonas;
  • Tipo da carcaça;

E se o acamamento estiver incorreto? Como podemos saber?

Visualmente é simples de identificar. Para tanto, temos duas possíveis situações:

  • Correia subdimensionada – partes da correia estão situadas entre os vãos dos rolos;
  • Correia superdimensionada – a correia não repousa sobre um ou mais rolos;

Portanto, se sua correia apresentar uma das possíveis configurações acima, sugerimos fortemente que revise as especificações de sua correia com um especialista.

Em contrapartida, uma correia bem acamada deve seguir o perfil abaixo:

Lembre-se: o acamamento é um critério muito importante para seleção da carcaça! Caso esse fator não seja levado em consideração durante a escolha da correia, você poderá se deparar com problemas iguais a estes abaixo:

4) Verificar o Diâmetro dos Tambores

Por fim, temos o último critério para seleção da carcaça, que está relacionado com o dimensionamento dos tambores que tracionarão a correia.

Ao se conformar nos tambores, a correia tem suas fibras externas estendidas e as fibras internas comprimidas. Para garantirmos que a correia não sofrerá tensões adicionais, acima do previsto, o tambor deve ter um diâmetro mínimo conforme estabelecido no catálogo do fabricante.

Outra relação importante entre o diâmetro dos tambores e especificação da correia está diretamente ligada ao comportamento da emenda, seja vulcanizada a frio ou a quente.

Conclusão

Como observamos, é de extrema importância levar em consideração os 4 critérios citados neste artigo no momento de especificar a carcaça de sua correia transportadora. Isso porque a determinação do tipo de carcaça passa por critérios absolutamente técnicos e influenciará diretamente na performance e vida útil da correia.

Sempre que necessário, consulte o fabricante ou um especialista em correias transportadoras para fazer um diagnóstico mais assertivo sobre o tipo de carcaça que deve ser utilizado em sua aplicação.

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